
Com a participação de docentes e discentes, o Grupo de Pesquisa Grandes Projetos na Amazônia (GPA) tem mantido, desde sua criação, contato permanente com diversos grupos e movimentos sociais para a construção de uma agenda de pesquisa desafiadora.
Na Amazônia, novos projetos se acumulam sobre projetos históricos de degradação ambiental. Exploração petrolífera, promessas de bioeconomia e mercados de carbono se mesclam com rodovias, hidrelétricas, complexos industriais, portuários e ferroviários. Acrescente-se nesta conjuntura desastrosa o caos, a violência e o adoecimento urbano.
A pesquisa científica é fundamental para compreender a essência, a estrutura como as relações de produção econômica, conflitos sociais e até mesmo visões de mundo sobre o que é natureza e meio ambiente. Um grupo voltado para a pesquisa de grandes projetos existe para compreender suas causas, suas origens histórico-estruturais, desvelar suas conexões de poder, suas consequências na natureza e nos seres humanos em pleno século 21.
A problemática dos Grandes Projetos na Amazônia continua atual. A sua escolha como objeto de estudo continua relevante devido a sua incomensurável força de degradação ambiental. Mas o que ainda não foi dito sobre esses megaempreendimentos? Como se desenvolvem os atuais danos, riscos e conflitos socioambientais provocados pelos GPA?
A criação e manutenção de um grupo de pesquisa que trate tal tema, num território como a Amazônia, é um desafio em si mesmo. Quando somados aos problemas de financiamento da pesquisa científica no Brasil e na Amazônia a tarefa se torna mais hercúlea.
Os avanços históricos na pesquisa científica sobre os Grandes Projetos na Amazônia acompanham a elaboração e instalação de grandes empreendimentos neste território. Desde meados do século 20 vários intelectuais se dedicaram ao tema, como: Milton Santos, Edna Castro, Jean Hebette, Francisco de Assis Costa, Gilberto Rocha, Alfredo Wagner, Philip Fearnside, Maria Célia Nunes Coelho.
Seguimos essa trilha teórica, atualizando a pesquisa e o debate sobre o tema. Avançamos com a perspectiva interdisciplinar, aplicando a Ecologia Política e dando visibilidade aos danos, riscos e conflitos socioambientais produzidos pelos projetos. Debates, publicações e eventos científicos com a participação de discentes, docentes e movimentos sociais articulam ações de ensino, extensão e divulgação científica, como no canal de vídeos Amazônia em Questão, no site Observatório de Grandes Projetos na Amazônia e na formação de jovens educadores ambientais (JEAM).
Novas agendas de pesquisa ou atividades envolvem uma leitura crítica das grandes obras do Novo PAC, como a Ferrogrão; a hidrovia Araguaia-Tocantins; a exploração de petróleo na Foz do Amazonas; os grandes projetos urbanos no âmbito da preparação de Belém para a COP 30.
Essa nova agenda de pesquisa também exige:
- Fortalecimento dos laços criados com os movimentos sociais, grupos de despossuídos e atingidos pelos grandes projetos, ouvindo-os sobre os temas de pesquisas e possibilidade de construção coletiva de produtos técnico-científicos;
- Articulação de uma rede de pesquisadores e pesquisadoras, na Amazônia e Pan-Amazônia, em torno do objeto científico dos grandes projetos, mas que atue no campo crítico do pensamento e ação;
- Financiamento das pesquisas, respeitando a autonomia do fazer científico;
- Análise dos novos grandes empreendimentos em implantação e planejados para a Amazônia, particularmente para a Amazônia paraense;
- Análise de novas temáticas sobre grandes projetos, como a forma como a mídia trata os danos e riscos socioambientais; a invisibilidade dos conflitos socioambientais; o racismo ambiental; as mudanças climáticas; a saúde ambiental.
- Espaços formativos e de debates para estimular a internalização dos conhecimentos e novas possibilidades de pesquisa;
- Produção científica em forma de livros, artigos; participação em eventos de comunicação científica e divulgação do conhecimento técnico de forma acessível e inclusiva.
A Amazônia ocupa o centro das reflexões da epistemologia ambiental pela contribuição inovadora de autores indígenas, a exemplo de Krenak1 e Kopenawa2. Não à toa a COP 30 será realizada em Belém em novembro de 2025. Entretanto ainda se faz necessário reconstruir uma “epistemologia ambiental regional”, com autores e autoras dedicados a elaborar e buscar caminhos no emaranhado de cipós do conhecimento sobre o meio ambiente. Como grupo de pesquisa, buscamos simplesmente colaborar com o campo científico e (re)conectá-lo com outros campos do saber.
Coloca-se o convite para se embarcar numa jornada intelectual, desvendando as intrincadas trilhas da teoria ambiental, guiados pelo norte da Ecologia Política, com Gaston Bachelard, Enrique Leff, Henri Acselrad e Martinez-Alier, abrindo caminhos para os desafios científicos e ecológicos da realidade global até territórios estratégicos como a Amazônia.
Temos muito a comemorar, mesmo sabendo que ainda há muito o que fazer. A utopia de um outro mundo possível, deve começar pelo sonho e realização de uma outra Amazônia. Que continuemos estimulando nossos discentes a perseverar no caminho da pesquisa científica
André Farias é sociólogo, líder do Grupo de Pesquisa Grandes Projetos na Amazônia
